Meu primeiro contato com o Autismo foi num curso sobre Análise do Comportamento. Como estudante de graduação em Psicologia, as vertentes em evidência científica faziam meus olhos brilharem; ver como as intervenções davam resultado e traziam qualidade de vida aos assistidos me fascinava. Na época, eu já era mãe de um menino lindo de um ano e meio. Me dividia entre faculdade, atendimentos e maternidade.
Enquanto atendia, percebia que alguns comportamentos dos meus pacientes com Transtorno do Espectro Autista (TEA) se assemelhavam aos do meu filho, mas pensava que era coisa da minha cabeça e que isso passaria. De fato, com estimulação, alguns comportamentos disfuncionais foram extintos. Entretanto, outros foram aparecendo, principalmente, quando ele entrou na escola. Ah, a escola… onde a criança passa ⅓ do dia, longe do conforto de casa e tendo que ter e aprender autonomia.
As dificuldades ficaram bem mais evidentes: socialização, resolução de problemas, aprendizagem acadêmica, seletividade alimentar, desregulação emocional. Tantos e tantos quesitos que eu não enxergava em casa enquanto era só nós dois, na nossa vida mãe-filho. Sempre fomos muito apegados. Sempre houve muito amor, carinho, comprometimento, parceria. E um certo nível de cegueira da minha parte. Talvez eu não quisesse abrir mão do meu filho perfeito? Talvez! Mas estava perdendo oportunidades de conhecer aquela criança que estava na minha frente. Aquele ser maravilhoso e com suas particularidades.
Veja, meu filho continua perfeito pra mim. Mas, o mundo é cruel pra ele. E como ter paz dessa forma? Como será seu futuro? Vai cursar faculdade? Qual profissão vai ter? Vai casar? Ter filhos? Amigos? Quem vai olhar pra ele quando eu não estiver mais por aqui? As pessoas não são obrigadas a cuidar de ninguém, mesmo havendo todo amor do mundo. Culpa? Sempre presente! O que eu poderia ter feito de melhor… a culpa do TEA é minha? Como eu deixei isso acontecer? Por que isso comigo? Por que isso com ele? Perguntas ainda sem respostas. Apenas com a certeza de que a vida não para, e nem vai parar, por causa disso. Hoje eu vejo a vida com um pouquinho de amargor, é verdade. Só que com mais empatia também. O cansaço nos acompanha. O amor nos sustenta.